sábado, 21 de novembro de 2009


"O pensamento é triste;
O amor, insuficiente.
E eu quero sempre mais do que vem nos milagres.
Deixo que a terra me sustente: guardo o resto para mais tarde.
Deus não fala comigo - e eu sei que me conhece.
A antigos ventos dei as lágrimas que tinha.
A estrela sobe, a estrela desce... espero a minha própria vinda.
Navego pelas memórias em margens.
Alguém conta a minha história.
E alguém mata os personagens".
 

(Cecília Meireles)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A Alma dos Diferentes

"Diferente não é quem pretenda ser. Esse é um imitador do que ainda não foi imitado, nunca um ser diferente.


Diferente é quem foi dotado de alguns mais e de alguns menos em hora, momento e lugar errados para os outros. Que riem de inveja de não serem assim, e de medo de não agüentar, caso um dia venham a ser. O diferente é um ser sempre mais próximo da perfeição.
O diferente nunca é um chato. Mas é sempre confundido por pessoas menos sensíveis e avisadas. Supondo encontrar um chato onde está um diferente, talentos são rechaçados; vitórias, adiadas; esperanças, mortas.
Um diferente medroso, este sim, acaba transformando-se num chato. Chato é um diferente que não vingou.
Os diferentes muito inteligentes percebem porque os outros não os entendem. Os diferentes raivosos acabam tendo razão sozinhos, contra o mundo inteiro. Diferente que se preza entende o porquê de quem o agride. Se o diferente se mediocrizar, mergulhará no complexo de inferioridade.
O diferente paga sempre o preço de estar - mesmo sem querer - alterando algo, ameaçando rebanhos, carneiros e pastores. O diferente suporta e digere a ira do irremediavelmente igual, a inveja do comum, o ódio do mediano.
O verdadeiro diferente sabe que nunca tem razão, mas que está sempre certo.
O diferente começa a sofrer cedo, já no primário, onde os demais, de mãos dadas, e até mesmo alguns adultos, por omissão, se unem para transformar o que é peculiaridade e potencial em aleijão e caricatura. O que é percepção aguçada em: "Puxa, fulano, como você é complicado". O que é o embrião de um estilo próprio em: "Você não está vendo como todo mundo faz?"
O diferente carrega desde cedo apelidos e marcações, os quais acaba incorporando. Só os diferentes mais fortes do que o mundo se transformaram (e se transformam) nos seus grandes modificadores.
Diferente é o que vê mais longe do que o consenso. O que sente antes mesmo dos demais começarem a perceber. Diferente é o que se emociona enquanto todos em torno agridem e gargalham.
É o que engorda mais um pouco; chora onde outros xingam; estuda onde outros burram. Quer onde outros cansam; espera de onde já não vem; sonha entre realistas; concretiza entre sonhadores. Fala de leite em reunião de bêbados; cria onde o hábito rotiniza; sofre onde os outros ganham.
Diferente é o que fica doendo onde a alegria impera. Aceita empregos que ninguém supõe. Perde horas em coisas que só ele sabe importantes. Engorda onde não deve. Diz sempre na hora de calar. Cala nas horas erradas. Não desiste de lutar pela harmonia. Fala de amor no meio da guerra. Deixa o adversário fazer o gol, porque gosta mais de jogar do que de ganhar.
Ele aprendeu a superar o riso, o deboche, o escárnio, e a consciência dolorosa de que a média é má porque é igual.
Os diferentes aí estão: enfermos, paralíticos, machucados, engordados, magros demais, cegos, inteligentes em excesso, bons demais para aquele cargo, excepcionais, narigudos, barrigudos, joelhudos, de pé grande, de roupas erradas, cheios de espinhas, de mumunha, de malícia ou de baba. Aí estão, doendo e doendo, mas procurando ser, conseguindo ser, sendo muito mais.
A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os pouco capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão tesouros da ternura humana dos quais só os diferentes são capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois."


Arthur da Távola

domingo, 23 de agosto de 2009

Não precisa dizer mais nada...

A fé é um dom que poucos podem ter...

A crença em algo que está além do nosso entendimento é necessária e essencial...

Mas, o fanatismo, em todos os sentidos é destruidor...


"A religião é um insulto à dignidade humana.
Sem ela teríamos pessoas boas fazendo coisas boas e pessoas ruins fazendo coisas ruins.
Mas para que pessoas boas façam coisas ruins, é preciso uma religião."

(Steven Weinberg)

domingo, 5 de julho de 2009




"Eu sempre soube que a única maneira de salvação era explodir, lançando tudo que há de complexidade e de mistério de dentro de mim.





Mas, explodir machuca, fere os que estão fora, destrói




Com o tempo descobri que a solução é implodir, explodir para dentro, no meu íntimo, e lucidamente examinar o que sobrou e assim, talvez, eu possa me encontrar".


(Autor Desconhecido)

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Os loucos estão no lado de fora do manicômio


Estou ausente do meu próprio espírito

Sou apenas carne e sangue

Perdôo todas as iniqüidades

Revolta-me essa vontade de apagar a lâmpada

A minha cabeça duvida de tudo

Da maneira como desci ao escuro

Do muro que não consigo atravessar

Dos seres assombrados com os quais não há diálogo possível

Não por parte deles

Pois estes parecem compreender mais do que eu

São lúcidos, filhos da própria altivez

Andam por aí como vultos desassossegados

Mas possuem coerência

Aqueles que aqui me abandonaram

Não conhecem deste verbo nem a raiz

O que diria os frutos

Pesadelo de um organismo deixado a esmo

Luto para não deixar de ser eu mesmo

Alimento-me da podridão

Agonizante no meu casulo

Ainda depois de largar o muro

Todos me vêem como um estorvo

Pelo que já passei um diagnóstico se impõe

Loucos são vocês

Que por dinheiro são capazes de ceifar existências

Calar vozes surdas com veredictos mudos

Pilhar por covardia enquanto descansam os aldeões

De tratar-me bem ou muito mal

De acordo com a conveniência ocasional

Os loucos estão no lado de fora do manicômio

segunda-feira, 18 de maio de 2009

As muitas falas sobre a solidão...


"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite".
Clarice Lispector


"Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia".
Nietzsche


"...Que minha solidão me sirva de companhia.que eu tenha a coragem de me enfrentar.que eu saiba ficar com o nadae mesmo assim me sentircomo se estivesse plena de tudo".
Clarice Lispector


"Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim!"
Carlos Drummond de Andrade


"Ó solidão! Solidão, meu lar!... Tua voz – ela me fala com ternura e felicidade! Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas. Pois onde quer que estás, ali as coisas são abertas e luminosas. E até mesmo as horas caminham com pés saltitantes".
Nietzsche


"...Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos... Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília..."
Cecília Meireles